sábado, 9 de novembro de 2013

TATUAR e ser TATUADO...TATUAGENS, TATUADORES e TATUADOS e seu estudo científico nos bancos escolares de níveis superiores...!

Apresento à todos vocês alguns dos estudos realizados por estudantes em busca do Título de Mestrado em vários cursos de universidades de nosso País, onde os estudos se relacionam com a atividade de tatuagem.
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS–GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CRIMINAIS
MESTRADO EM CIÊNCIAS CRIMINAIS
 
VIOLÊNCIA NA PELE: CONSIDERAÇÕES MÉDICAS E LEGAIS NA
TATUAGEM
 MICHELLE LARISSA ZINI LISE
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Criminais – Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
 
Porto Alegre
2007
RESUMO
A presente dissertação teve como objeto de estudo a tatuagem, dando ênfase aos aspectos de estigmatização e de possíveis prejuízos advindos de discriminação, percebidos pelos tatuados. Iniciou-se por uma pesquisa bibliográfica abrangente da legislação vigente e proposta no Brasil, e de uma revisão do Direito Comparado, incluindo uma revisão da legislação da Inglaterra, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Portugal, Irlanda, Luxemburgo e Argentina.
 
Além dos aspectos jurídicos, buscou-se uma aproximação interdisciplinar do tema e, para tanto, a revisão foi composta de uma abordagem acerca da dor e da pele, sob o prisma psicológico e biomédico. Fez-se, também, uma breve revisão de literatura, a respeito dos papéis da tatuagem, ao longo da história, o papel do corpo e seu culto na sociedade ocidental atual, sendo formuladas hipóteses para a origem da estigmatização da tatuagem.
 
Buscou-se verificar, entre outros itens, a existência da influência da mídia e do grupo social, nos processos relacionados ao ato de tatuar-se. Foi realizada uma pesquisa de campo, fora de asilos psiquiátricos e instituições prisionais, totalizando 42 entrevistados.
 
A pesquisa envolveu um grupo composto, na maioria, por mulheres, com média de 28 anos, apresentando de duas a quatro tatuagens, de escolaridade superior completa.
 
 
Os resultados obtidos junto a essa amostra apontam que os tatuados não vêem a tatuagem como uma forma de resistência cultural; acham que é uma forma de se expressar, de se embelezar e disfarçar um sinal que não gostam em si; afirmam que não acham importante a opinião dos outros sobre tatuagem; dizem que nunca se sentiram discriminados ou esconderam sua tatuagem, tampouco pensaram em retirá-la; acreditam que a tatuagem seja um atrativo sexual; deixariam de fazê-la, se ela lhes trouxesse prejuízo profissional.
 
Também afirmam não terem usado álcool, quando fizeram o desenho; não sendo usuários habituais de drogas. A análise conjunta dos dados, contudo, mostrou que os tatuados fazem seus desenhos em locais do corpo que possam ser escondidos pelas roupas, para evitar prejuízos, principalmente, no âmbito profissional.
 
 
Ficou evidenciada a existência de discriminação aos portadores de tatuagens, quando esses são candidatos a concursos públicos - em especial para cargos militares -, bem como a preocupação dos legisladores em evitar tais fatos, expressa em projetos de lei estaduais e nacionais, atualmente em tramitação.
 
 
Verificou-se, por fim, a ausência de legislação, em nível nacional, que normatize a aplicação e uso de tatuagens.
Área de Conhecimento: Criminologia e Controle Social.
Palavras-chave: Tatuagem. Estigma. Violência. Corpo. Pele.
 
 
INTRODUÇÃO
A presente dissertação trata do tema das tatuagens e da construção de estigmas, na identificação dos sujeitos em sociedade, a partir da inscrição de marcas no corpo. Parte do reconhecimento de que o grupo de pessoas tatuadas vem crescendo a cada dia, o que indica a relevância da abordagem, devido às suas múltiplas implicações. Tem como objetivo compreender as motivações e percepções dos tatuados acerca do uso de um desenho inscrito definitivamente em sua pele, bem como as implicações sociais e jurídicas, no sentido de estigmatização desses sujeitos.
 
A prática da ornamentação da pele é um hábito tão antigo quanto a civilização, tendo sido encontrada em múmias do período entre 2.000 a 4.000 A.C. Não se sabe ao certo sua origem. Alguns autores acreditam que ela possa ter surgido em várias partes do globo, de forma independente; outros crêem que ela tenha sido difundida pelo mundo, a partir das grandes navegações dos países europeus. Pelo que se sabe, a tatuagem era uma prática desconhecida, ou, antes, há muito esquecida pela cultura ocidental - e aqui lemos Europa Ocidental, - até o retorno do navegador inglês, James Cook, de suas explorações aos chamados Mares do Sul, atual Polinésia, nos idos de 1769.
 
Nos Estados Unidos (EUA) e Europa, há mais de 100 milhões de pessoas com tatuagens. Acredita-se que 5 a 10% da população, em geral, dos Estados Membros da União Europeia tenham uma tatuagem ou piercing. Há 4.000 tatuadores no Reino Unido, produzindo cerca de um milhão de tatuagens por ano. Em 1995, entre um grupo estudado de 1.762 estudantes adolescentes americanos, mais de 9% tinham uma tatuagem, e o mais jovem, ao fazê-la, tinha apenas oito anos. Na Itália, por exemplo, estima-se cerca de um milhão de tatuados. Pesquisa de 2002 mostrou que 7,2% dos jovens e 5,7% das jovens têm tatuagens. Nos EUA, entre 20 e 40 milhões e, no Reino Unido, os tatuados representam cerca de 8% da população ou cerca de cinco milhões de pessoas.
 
Assim, desde a sua obscura origem, aos seus variados usos, ao longo da história, como parte de ritual, de inscrição de marca punitiva ou de identificação grupal, até a generalização do uso na sociedade ocidental contemporânea, muitas têm sido as funções da tatuagem. Apesar de sua grande difusão na atualidade, esse tipo de inscrição na pele não parece ter perdido totalmente o caráter de estigma.
 
Dessa forma, o fenômeno crescente da tatuagem vem representando um notável objeto de estudo, por parte do Direito, da Antropologia, da Medicina, da Sociologia, entre outras áreas suscetíveis de influência ao seu uso. O tema interessa sobremaneira ao Direito, uma vez que os indivíduos tatuados são alvo de discriminação e preconceito. Diz respeito, em especial, ao Direito Penal, que tem estudado os aspectos que levam um indivíduo a ser estigmatizado, bem como os efeitos desta estigmatização, no campo jurídico.
 
Diante desses questionamentos, o presente estudo vem colher o discurso do tatuado, sua história, seu conhecimento e suas vivências em relação ao tema, bem como entender sua percepção acerca da tatuagem na sociedade atual.
 
 
Há dificuldade de se obter essas respostas, devido à escassez de estudos aprofundados no ambiente mais comum, fora das prisões, dos asilos psiquiátricos e dos centros de recuperação de dependentes de drogas, onde, provavelmente, é mais fácil encontrar as relações inquietantes entre a tatuagem e estilos de vida antissociais particulares.
 
Assim, diante da escassez de trabalhos junto a pessoas não institucionalizadas, tomou forma a idéia de entrevistar indivíduos tatuados com esse perfil e descobrir quais os motivos que os haviam levado a realizar suas tatuagens, bem como, o que eles pensavam da tatuagem.
 
 
As questões provocadoras do estudo foram: “Os tatuados são realmente pessoas diferentes?”, “Eles se sentem discriminados, por usarem a tatuagem?”, “Eles se importam com a opinião dos outros?”, “Acreditam em um papel de rebeldia da tatuagem?”, “Sentem a pressão da moda ou da mídia?”, “São usuários de drogas?”.
 
 
Neste trabalho, é abordada a origem da tatuagem e do termo tattoo, bem como as funções da tatuagem, ao longo do tempo, como marca tribal, seu caráter de punição, seu uso em guerras e fora delas, até o tempo hodierno.
 
 
Também é apresentada uma discussão acerca do corpo, ao longo da história, bem como o papel da religião, na sua abordagem, e do massificante culto ao corpo “perfeito”, presente em nossa sociedade.
 
A dissertação prevê, ainda, uma breve passagem pelos aspectos biomédicos e psicológicos, envolvendo questões a respeito da pele e da dor. A revisão a respeito das múltiplas dimensões da tatuagem - quais sejam, os tipos, desenhos e estilos, o estigma e a parte prática de produção e remoção das marcas - é apresentada por meio de relatos da literatura. Os conceitos de autonomia e direitos de personalidade e a exposição da legislação atual no Brasil e em alguns outros países, assim como uma abordagem acerca da discriminação, preconceito e sua relação com a violência são aspectos que finalizam.
 
 
  
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tatuagem como fenômeno atávico e difuso suscita e permite a abordagem através de diversos saberes, como o Direito, a Medicina, a Psiquiatria, Psicologia e Antropologia.
 
 
Em especial, sua utilização por grupos específicos como prisioneiros e pacientes psiquiátricos a manteve associada a um caráter de estigma ao longo da sua história.
 
Desta forma, a presença de uma tatuagem pode ser vista como fator descriminalizador e, portanto, como uma possível fonte de estigma e violência insidiosa aos seus portadores.
 
Por tudo isto, esta dissertação teve como objetivo colher o discurso do tatuado e sua percepção sobre diversos aspectos ligados ao tema, dando ênfase para a percepção de discriminação.
 

Os principais resultados da pesquisa de campo, a partir da análise das 42 entrevistas, evidenciaram, principalmente, que ainda existe a estigmatização dos tatuados e, também, demonstraram que parece haver uma falta de percepção ou, mesmo, uma negação desse fato entre eles.
 
 
A contradição foi expressa pelos tatuados, entre as questões objetivas relacionadas à discriminação e algumas mais gerais, que diziam respeito à prática da produção da tatuagem – como a localização, por exemplo. O que se percebe, então, é que existe uma diferença entre o discurso do tatuado e os seus atos, quanto ao contexto social.
 
 
Nesta pesquisa, verificou-se também uma importante mudança no significado da prática para o tatuado. Mesmo que entre alguns poucos o uso da tatuagem permaneça como sinal de rebeldia, os sujeitos pesquisados reconheceram como motivo para se tatuar a produção de um adorno, uma forma de expressão.
 
 
As considerações jurídicas apresentadas no trabalho apontam, também, a necessidade premente de uma legislação específica, que normatize qual deve ser a formação dos tatuadores, como devem ser os estúdios de tatuagem, qual a procedência das tintas e demais materiais empregados, bem como a necessidade de pesquisa dos possíveis riscos trazidos quando da remoção dos pigmentos através do uso de tecnologias médicas, como os lasers.
 
Cumpre referir, neste tocante, a existência de diversos projetos de lei em tramitação junto às casas legislativas, seja no âmbito nacional como estadual, cujo objetivo, dentre outros, é evitar a manutenção da discriminação e de prejuízos injustificáveis aos portadores de tatuagens, como evidenciado no caso dos concursos públicos.

 
Para um futuro trabalho, seria interessante a aplicação de um questionário abordando questões levantadas, como a pesquisa mais específica sobre os conhecimentos dos tatuados dos riscos possíveis à saúde, como a prevalência de doenças infecciosas e psiquiátricas associadas e sobre a remoção. Outra sugestão seria a obtenção de uma amostra mais aleatória que inclua indivíduos de outros grupos sociais, bem como, a aplicação a um maior número de pessoas.

 
Ao traçar um perfil do portador de tatuagens, em um grupo não institucionalizado, como preso e interno de clínicas de tratamento psiquiátrico, o trabalho buscou contribuir para o debate sobre a temática que envolve a tatuagem, buscando desmistificar o estigma historicamente associado a esse grupo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário